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domingo, 4 de setembro de 2011

"MÃE, EU NÃO QUERO MAIS SER PRETO!" Tudo começou assim...

No meado de 2010 eu, mãe de um lindo negrinho chamado Denzel (lógico que é por causa do Maravilhoso Denzel Washington) gozando de seus 4 anos de idade, ao chegar do trabalho, como rotineiramente faço,  querendo saber como foi seu dia no integral da escola, enchendo-lhe de perguntas que geralmente são respondidas com um curto relato: -“foi tudo bem”, percebi que naquela curta frase havia um olhar cabisbaixo não habitual!
Desejando saber um pouco mais sobre aquele olhar fui surpreendida com a seguinte afirmativa:

- “Mãe eu não quero mais ser preto!”


Naquele momento muitos sentimentos que acreditei já terem sido superados vieram à tona, como uma novela em meus pensamentos, cenas e situações do meu passado que já justificaram essa mesma frase no íntimo do meu coração, mas que nunca externalizado como naquele momento ousado e inconformado!

Tentei manter a serenidade para saber quais eram os motivos que o levavam a fazer tal protesto, e com muita revolta Denzel respondeu que seus coleguinhas de escola disseram-lhe que sua cor era a cor de coco e por isso riam dele! 

Fiz de tudo para não transparecer minha indignação e na tentativa de levantar sua auto-estima, logo respondi:
- “Como pode um garotinho tão lindo, cheiroso e gostoso ser comparado a um coco!? Acho muito mais parecido com uma deliciosa barra de chocolate ou com um cafezinho gostoso e quentinho...” e o enchi de beijos...
Vendo seu rostinho ainda descontente com um lindo biquinho, em seguida tentei indagar se ele também gostaria de sair dessa família, pois se todos nós somos pretos e nos orgulhamos disso, como eu poderia ter um filho branco!?
Ainda não contente com meus argumentos Denzel questionou o fato de não existir nenhum super-herói preto, e que nos momentos de brincadeira da escola, os colegas não aceitavam que ele fosse personagens como Super-homem, Bem 10 ou Homem Aranha porque não são parecidos com ele!

Com meu coraçao apertado sabia que ele tinha toda razão com relação a falta de super-heróis e personagens de sucesso negros, mas ainda assim respondi que no mundo do faz-de-conta, todos poderiam ser quem quisesse, independente de parecer ou não com determinado personagem.

Tudo isso foi muito embaraçoso, pois ontem eu fui a criança vítima de todas essas discriminações raciais em meus vários ambientes sociais e hoje sou mãe de mais uma criança que, em pleno século XXI ainda é vítima desse mal que a população negra brasileira ainda é submetida, o RACISMO!!!!! Um mal que parece não se estancar...

Procurei a escola para saber que tratamento estavam dando a estes tipos de questões, e responderam não terem presenciado nenhum tipo de conflito parecido. Uma professora, que aliás tenho muito carinho, depois de meu relato, com as melhores de suas intenções transbordou o balde de despreparo com as questões raciais, pois foi capaz de abraçá-lo e dizer: “Meu lindo, não fica triste com essas coisas, aliás, “você nem é preto, você é moreninho igual a tia, ó!" (comparando os tons de peles)
Quase caí para trás!!!!! De imediato corrigi sua colocação, mais que equivocada, dizendo que ele é preto sim, assim como sua mãe e seus familiares, (não aquele que é preto, mas é bonito) mais sim um preto muito lindo e inteligente que não deve se abater com colegas que falam esse tipo de bobagem!

Neste momento percebi que se dependesse da ajuda da escola para esse tipo de apoio, a briga estava perdida, pois por mais amorosas e cheias de boas intenções não estavam preparadas para agir em prol de uma educação anti-racista, tão pouco estavam alicerçadas com a lei federal nº10.639/03, que na ocasião era pelo menos 3 anos mais velha que Denzel!!!!!
Muitas reflexões me fizeram sair de todos esses anos em estado da inércia, pois como uma professora graduada em Pedagogia e História não poderia permitir passar por tudo isso novamente sem nenhum posicionamento efetivo que pudesse abranger um número maior de pessoas em prol do combate ao racismo na educação.
O somatório da minha própria história, mais esta questão com meu filho em pleno Jardim II, além das observações do meu dia-a-dia como educadora de um projeto social com jovens da comunidade de Manguinhos, deram pernas para a criação do “Projeto: Recriando olhares em prol de uma Consciência negra em Roda de educadores”, objetivando contribuir com os esforços das esferas públicas por uma educação anti-racista, de maneira militante, levando aos espaços educadores discussões e reflexões que possibilitem recriar olhares sobre as questões étnico-raciais brasileiras fundamentada pela lei federal 10.639/03, viabilizando uma melhor elaboração de práticas pedagógicas em favor de uma educação pela valorização das diferenças na construção de igualdades.
E este é o 1º ato dessa história da vida real!
Viviane Rodrigues Santos Angelo

5 comentários:

  1. Ola amiguinha ! estou solidária em sua luta, pois sei o quão dificil é criar um filho (a) em um mundo tão racista, principalmente quando as escolas não têm preparo para lidar com essas situações de conflitos raciais...gostaria que vc particcipasse de meu blog http://olhar-negro.blogspot.com/ , participasse tbm ,acredito que juntas podemos mudar muitas coisas .

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  2. Vivi, achei seu blog lá no Trança Nagô e tô seguindo... Tb crio um filho q me faz algumas "surpresas" desse tipo de vez em qdo sabe?

    Mas estou por aqui e vou ler seus posts, conhecer mais a sua história e acompanhar seu blog...

    Um bjo enorme em vcs!

    gabirosaflor.blogspot.com

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  3. Oi Vivi! Vi seu blog no TrançaNago e li isso com coração apertado! Fui criancinha e lembro de momentos parecidos na minha infância... é triste mesmo, fico imaginando quando eu tiver filhos como tratarei do assunto...! Muito bom o seu post! Vou divulgá-lo no meu Facebook tudo bem? Acho que mais pessoas deveriam ler esse relato!

    Beijos
    victoria-diz.blogspot.com

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  4. Ótimo exemplo Vivi, é assim que se faz, já dizia Marx que o homem é capaz de alterar a natureza e o ambiente ao seu redor com a força do seu trabalho, e é isso que você precisa continuar fazendo, pois através de suas experiências e relatos - suas "biografias" - você é capaz de mudar o mundo!

    E não perde a chance de falar do supershock!

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  5. Oi Viviane,hoje através de suas aulas sei o quanto existe pessoas, pior educadores despreparados para lutar contra uma sociedade anti-racista como a nossa, só agora sei o quanto isso é feio, ignorante pois antes parecia que eu não queria ver o racismo, o preconceito mais fico muito feliz por estar aprendendo muito com você e estou melhor preparada agora para lidar com esse assunto do nosso dia-a-dia, fiquei imaginando seu pequenino filho lhe dizendo isso e me doí saber que temos tantas crianças já desde pequena e essa visão de discriminação, sei que não são de tamanho sucesso como os outros mais diz para seu filho que ele pode ser:Raio negro ou Pantera negra ou super choque ou Lanterna verde ou Falcão ou Spawn ou Icon ou Blade ou o melhor de todos ele mesmo pois igual a ele não existe ele é único e você e outras pessoas irão ama-lo com grandeza. Agradeço pelo que tens me ensinado, pois hoje sou uma pessoa melhor depois do seu aprendizado...beijos da sua aluna Vanessa.

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